Diário de um alcoólatra

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12/03/1975
Venho por meio desta, esclarecer que a boêmia sempre foi o meu melhor amigo, pois nunca me deixou na mão. Principalmente nos dias mais infelizes, da minha suposta vida. A dependência nunca me fez mal, mesmo que os médicos digam que estou morrendo. Quando eu soube da doença fiquei me perguntando se valia a pena viver, mesmo que para isso eu deveria deixar de fazer o que mais gostava. Sugiro que não, pois meus filhos sempre preferiram a mãe, que por sua vez, passa seus dias me evitando, já que não somos mais um casal. Ela vinha me ajudando a parar com a bebedeira, que sempre foi mais forte que eu. Vejo que ela desistiu de perder seu tempo com esse que vos fala. A doença tem me dado mais motivos para querer beber, e a bebida me da força para viver. Venho piorando a cada dia e não suporto a ideia de ter que passar meus últimos e enfadonhos momentos neste hospital. Uma infinidade de amigos e parentes entram e saem do meu quarto. Eles só aparecem quando estamos perto da morte, ou quando já estamos mortos e não precisamos deles. Não os culpo, afinal, quem quer andar com um vagabundo derrotado?! Continuo muito fraco, mas amanhã é a minha cirurgia e espero que tudo ocorra bem, para que eu comemore brindando. Caso contrário, deixo esse diário para os meus filhos e peço-lhes que me perdoem pelo erro que fui. Espero que com esse erro eles aprendam a escolher melhor os seus caminhos. Por fim, esse diário se enterra aqui, assim como eu.